sábado, 15 de outubro de 2011

Ford T

O sonho de Henry Ford era democratizar o automóvel, produzi-lo em grande número e com custo suficientemente baixo para que todo americano pudesse ter um. Sem perder seu objetivo de vista, Henry criou o Ford T, que vendeu 15 milhões de unidades entre 1908 e 1927.
O primeiro Modelo T começou a ser produzido no dia 1º de outubro de 1908. Entre as inovações estavam: o valor acessível, a produção em escala e a oferta de peças para reposição. O modelo T era equipado na época com um motor de quatro cilindros que gerava 20 cv de potência máxima. O consumo não era o dos mais altos, até para os dias atuais: 5,5 km/l a 9 km/l de gasolina.
Embora o Modelo T vendesse bem desde seu lançamento, devido à robustez mecânica e o baixo preço -- US$ 860 --, Ford pensava em como poderia aumentar ainda mais a produção. A revolução veio em 1913, aproveitando componentes intercambiáveis e folgas e estudando tempo e movimento de montagem dos carros, Ford, inspirado nos processos produtivos dos revólveres Colt e das máquinas Singer, criou a primeira linha de montagem de automóveis da história. O processo consistia em realizar a montagem do carro em cima de uma esteira, que levava os componentes até os funcionários para que colocassem as peças na carcaça. Esse processo resultou numa crescente especialização do trabalho com os funcionários, constantemente realizando tarefas repetitivas.
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Devido ao novo processo, o tempo de produção do Modelo T caiu de 12 horas para apenas uma hora e meia, e com o passar do tempo diminuiu ainda mais. Ford pôs em prática a política de produção em massa para consumo em massa. O modelo, que em 1909 custava US$ 900, passou para US$ 600 em 1913 e o preço foi diminuindo cada vez mais, até chegar a incríveis US$ 260. (tão popular na época quanto difícil de conseguir no jogo...precisa de todas licensas gold na superlicense do gt4...).
Em 1919 o T passa a contar com partida elétrica, mas a partida manual por meio da manivela não foi eliminada. O solavanco contrário, ocasionado pelo tranco do acionamento do motor, chegou a quebrar o braço de muita gente. Para dar partida no T era necessário ter atenção e jeito.
Desde que fosse preto... Detalhe curioso é que o Modelo T só era oferecido em uma cor. Conta-se que Ford dizia que se podia comprar o T de qualquer cor, contanto que fosse preto... Isso ocorria porque a tinta preta é mais barata e seca mais rápido que as demais cores, o que agiliza o processo produtivo. Apesar da restrição cromática, o carro foi um sucesso e teve enorme procura. Então, Ford começou a contratar funcionários e construir outras fábricas. Uma nova revolução estava a caminho.
Ford decidiu dobrar o salário de seus funcionários, passando a hora de trabalho de US$ 2,14 para R$ 5,00. A procura pelos empregos foi gigantesca e tal medida provocou um abalo na bolsa de Nova York, conhecido como o Five Dollar Day (dia dos cinco dólares). Os números de produção do Modelo T eram impressionantes, assim como a eficiência do processo produtivo adotado por Ford. Para se ter uma idéia dos números, em 1914 a Ford tinha 13.000 empregados que produziam 308.162 carros, enquanto as outras 299 montadoras do mundo possuíam juntas 66.350 empregados e produziam apenas 280.000 veículos.
O impacto do modelo de produção implantado por Ford, contudo, não se restringia a suas influências ao mundo do carro. Sua política de produção e consumo em massa atingia todos os setores da indústria. Tal processo produtivo passou a ser chamado de "fordismo" e seria a principal força do capitalismo do século XX. A grande indústria é a mola propulsora do desenvolvimento. Quando Juscelino Kubitschek decidiu fazer o Brasil crescer "50 anos em cinco", uma de suas primeiras medidas foi trazer a indústria automobilística.
O fordismo, no entanto, está presente em todo o setor produtivo, chegando inclusive à indústria de alimentos. O mundo industrial não tem tempo a perder, então proliferam-se as cadeias de fast-food, nada mais do que comida produzida em escala industrial e de forma padronizada. O fordismo está também ligado ao sucesso do chamado estado do bem-estar social, pois ele não exclui o operário da vida econômica -- pelo contrário, passa a inclui-lo de forma que ele possa também ser um importante consumidor. Com o apoio do Estado, os anos do pós-guerra foram os mais prósperos para o capitalismo, onde os trabalhadores desfrutavam de melhores condições de vida.
Ford continuou à frente de sua indústria até 1943, quando se aposentou para gozar os prazeres da vida e cuidar de sua saúde. Curiosamente, o grande empreendedor acabou perdendo terreno devido à relutância em mudar o Modelo T, quando outras empresas já ofereciam novas cores e equipamentos para seus carros. Ford recuperou prestígio e a liderança nas vendas com seu motor V8, apresentado em 1933.
Esse motor, confiável e potente, foi um sucesso imediato e ficou famoso por ser o carro favorito dos gangsteres da época da Lei Seca.
Henry Ford faleceu aos 83 anos, em sua cidade natal. Ao longo de sua existência, a Ford teve alguns fracassos como o Edsel e vários sucessos, como o Thunderbird e o Mustang. Hoje é a segunda maior fábrica de automóveis do mundo.
Quando, em 1927, o bem sucedido Modelo T deixou as linhas de montagem pela última vez, não foi o fim de uma era, mas apenas o despertar de uma nova era que havia começado anos antes, quando o pequeno Ford deixou a fábrica de Detroit para ganhar o mundo. Nenhum carro teve tanto impacto no panorama mundial como o T, pelo que é mais do que justo que seja lembrado para sempre como o Carro do Século XX.

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